Realizou-se na passada quinta-feira nocturna, a corrida de
comemoração dos 10º aniversário da reabertura do Praça de Toiros do Campo
Pequeno. O Cartel foi o idêntico ao de há 10 anos atrás, excepto a presença dos
Forcados de Montemor. Ou seja, João Moura, António Telles e Rui Fernandes,
toiros de Mário e Herdeiros de Manuel Vinhas para os Grupos de Forcados de
Santarém e Lisboa.
Infelizmente a lotação esgotada de há 10 anos, não se
repetiu novamente, a praça registou meia casa envergonhada. No
inicio da corrida a Sociedade do Campo Pequeno enalteceu os feitos alcançados
durante estes 10 anos. Foi garantidamente uma Praça de Toiros que durante o seu
interregno fez muita falta à festa, e que durante estes 10 anos de reabertura,
já testemunhou muitos e muitos triunfos com grande afluência de publico, não
esquecendo claro a escola de toureio, e todos os espectáculos taurinos que se
tem aí realizado que fomentam sempre mais afición.
Quanto ao espectáculo, adivinhava-se de muita
responsabilidade para todos os intervenientes, não só pelo peso que a corrida
tinha em si, mas também pela Curro de Toiros Vinhas. Curro esse que saiu muito
encastado e com vários pormenores de bravura em alguns toiros, sendo na sua
generalidade toiros com “pouca cara”, o que dificulta a pega de caras.
Para pegar o 1º toiro do Grupo de Forcados Amadores de
Lisboa, perfilou-se o Cabo Pedro Maria Gomes. O Pedro é um forcado que já pega
desde 1997, muito experiente, um líder nato e que infelizmente sofreu na pele
uma colhida gravíssima, mas a fibra dele é das que verga mas não parte e apesar
de não pegar há já algum tempo, decidiu dar exemplo e escolher para si o 1º.
Numa altura de transição, onde o grupo está bastante jovem, muitas vezes estes
passos em frente são importantes para moralizar os mais novos. Brindou ao cabo
actual Diogo Sepúlveda e futuro cabo João Grave do Grupo de Forcados Amadores
de Santarém, e pegou apenas à 4ª tentativa, ou o toiro ensarilhava, ou o Pedro
não aguentava ou o toiro entrava por baixo e o Pedro empranchava-se… não se
entenderam. O Pedro esteve sempre enorme, um valente como é seu apanágio e eu até podia estar a descrever
a pega, mas prefiro falar mais da atitude, valentia e liderança que ele impôs
nesta pega. Esta Pega até podia ter desmoralizado o restante grupo, mas isso
não aconteceu, o grupo agigantou-se nos toiros que faltaram.
Para o 2º toiro foi escolhido o experiente Manuel Guerreiro,
O Manuel é um forcado artista e com muitos anos de experiencia, o que lhe
facilitou naturalmente a execução desta pega, brindada a Rui Bento Vasques pela
gestão destes 10 anos de Campo Pequeno. Esteve muito bem no cite, calmo e
sereno, e no momento certo carregou o toiro com decisão, aguentou o suficiente
para recuar com muita arte e reunir à barbela. Grande 1ª ajuda do Lebre, onde o
toiro acaba por fazer o “pino” e rodar sobre si mesmo, sem consequências de
maior.
O ultimo toiro da corrida tocou ao também experiente Pedro
Gil, forcado muito seguro e com bastantes provas dadas ao longo dos últimos
anos. O Pedro brindou a sua pega aos Deputados presentes em praça, pela coragem
de estarem presentes e assim defenderem uma tradição tão Portuguesa. Pegou à
2ª, podia ter sido à 1ª um pegão. Na 1ª tentativa, o Pedro citou com muita
galhardia e alegria, carregou o toiro na altura certa e fechou-se como uma
“lapa”, o toiro depois de outra boa 1ª do Lebre muda a trajectória fugindo ao
Grupo e fazendo meia praça apenas com o Pedro e com o Daniel Batalha, acabando
este por se lesionar. A viagem foi duríssima e muita longa, pelo que no final o
forcado estava agarrado aos cornos do toiro com os braços esticados, o que deu
a percepção ao publico de estar fora da cara do toiro. O forcado e bem, em conjunto com o Cabo
decidiram pegar novamente e fazer outra valente pega, com o grupo muito bem a
ajudar. Na minha opinião interessa mais a atitude de um forcado do que
pegar sempre à 1ª, e neste caso o publico compensou o Pedro Gil com uma enorme
ovação pelos dois pegões que fez mas acima de tudo pela sua atitude! Olé!!
Não gosto de individualizar, mas há corridas onde apesar do
grupo estar bem sobressai aquele forcado, foi o caso do Ricardo Lebre. O Lebre,
fez uma corrida absolutamente extraordinária, no que toca à técnica, entrega e
valentia. Deu três 1ªs de muito valor, sem nunca virar a cara à luta. Parabéns
e que continues assim. Gostaria também de desejar as rápidas melhoras ao Daniel
Batalha, que se lesionou pela sua entrega e vontade, que regresse rápido que
tem muito para dar ao Grupo.
Se o Grupo tiver a mesma entrega nas próximas corridas que
teve no Campo Pequeno, não tenho duvidas que vai ser um temporada de sucesso.
Um Abraço,
Francisco Mendonça Mira