Passados 7 anos, regressámos a Vila Franca de Xira e à
centenária Palha Blanco. Terra de Toureiros, Forcados, Campinos, Ganadeiros e
onde, na sua grande maioria, as pessoas são aficionadas e conhecedoras do toiro
bravo e da corrida à Portuguesa.
Exemplo disso mesmo, são as suas feiras taurinas de Outubro
e as festas da sardinha assada, alturas em que o toiro é o maior atractivo.
Para o Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, muito embora
todas as corridas e praças sejam de igual importância, pelas noites e tardes de
glória que já lá alcançámos, esta corrida transmitia outro “som” e outra
responsabilidade.
Como se tudo isto não bastasse, estávamos perante uma das
corridas mais aguardadas da temporada (“a corrida da emoção”), pela imponência
e trapio dos Canas Vigoroux que iriam sair à praça para ser lidados.
Os dados estavam lançados, vamos aos factos:
Praça de Toiros: Palha Blanco – Vila Franca de
Xira
Empresa: Tauroleve
Ganaderia Canas Vigoroux: 1º, Negro, 610 kg – 2º, Jabonero, 670 kg – 3º, Negro, 585 kg
Cavaleiros: Luís Rouxinol, Manuel Telles Bastos e João Salgueiro
da Costa
Grupos de Forcados Amadores
de Lisboa e Vila Franca de Xira, capitaneados respectivamente por Pedro Maria
Gomes e Ricardo Castelo
Assistência: ¾ de casa
Direcção de Corrida: Delegado Técnico Tauromáquico Sr.
Ricardo Pereira
Antes de me iniciar pela crónica propriamente dita, gostava
de fazer um ponto prévio. À entrada para a praça, dizia-me um prestigiado
cavaleiro “ isto hoje, é uma corrida para homens”. Para nós, esta temporada,
era a 2ª corrida da época, seguida de uma corrida não menos duríssima em que
pegamos três toiros da ganaderia Palha no Campo Pequeno. Nessa corrida, não
tivemos sorte, mas saímos de cabeça bem erguida, mostrando um grupo coeso e com
muita vontade tanto de forcados da cara como dos ajudas!
Aos que cá andamos,
são estas corridas que dão gozo, as corridas em que sabemos à partida que vamos
ter o momento em que conseguimos superar todas as contrariedades com que nos
venhamos a deparar e, em que temos que estar o mais concentrados possível e,
como sempre, “dar o corpo ao manifesto” para que tudo e todos saiam sem mácula.
Se acho que nesta corrida poderíamos, nalguns casos, ter feito um pouco mais,
acho. Agora se me perguntaram se sai da praça envergonhado com a nossa
prestação, não só não sai dessa forma, como mais uma vez penso que saímos de
cabeça erguida, honrado (como sempre) a nossa jaqueta, bem como a figura do
forcado amador.
Antes de passar às
nossas pegas, tenho que dizer, que efectivamente, os toiros eram uma estampa e,
que só pela apresentação já metiam o seu respeito. Em virtude do 1º toiro do
grupo de Vila Franca ter sido recolhido aos curros por ter saído
desquadrilhado, uma vez que pegámos os nossos três toiros de seguida na
primeira parte e o grupo de Vila Franca os seus três na segunda parte da
corrida, quase que posso dizer que assisti a duas corridas, o que bem vistas as
coisas, não deixa de ser verdade, face à diferença do comportamento evidenciada
pelos toiros de uma parte para a outra.
O 1º “Canas” que nos calhou em sorte com o peso de 610kg,
foi lidado com grande valor pelo Cavaleiro, Luís Rouxinol.
Foi um toiro que veio de menos a mais e que durante a lide
demonstrou que se iria empregar assim que se sentisse abraçado pelo forcado da
cara, qual comboio a fazer concorrência aos que passam na linha junto à Palha
Blanco.
É aqui que começa a relação com o título. Depois de todas as
adversidades e “lutas” que já travou, sabendo que era nossa 2ª corrida, vendo
as dificuldades que ali poderiam estar e, até para manter uma tradição antiga
de ser o Cabo a abrir praça, o nosso
Pedro Maria Gomes perfilou-se para a pega dando o mote para a forma como
teríamos que encarar esta corrida: “Antes quebrar que torcer”. Brindou aos
antigos elementos que ali viveram tantas corridas de glória: José Augusto
Baptista, Horácio Lopes, José Maldonado e um especial em direcção ao céu, para
o grande Domingos Barroca.
Na 1ª tentativa e muito embora o toiro viesse com
bastante pata, parece-me que houve ali alguma hesitação a partir das segundas
ajudas, que toiros destes, que pedem contas cá atrás, não costumam perdoar.
Na 2ª, penso que o “PP” não se consegue fechar bem de braços
e o toiro, já com a lição estudada, já vinha a fazer mal.
Na 3ª, uma boa reunião com o grupo a entrar bem. Com a
vontade de ajudar e resolver, acabaram por tropeçar uns por cima dos outros
permitindo que o toiro se desviasse acabando por despejar o PP.
Chegamos à 4ª tentativa e, se no princípio referi que em
grande maioria o público da Palha Blanco é entendido dos toiros e das corridas,
há dois motivos que me levam a não conseguir perceber algumas reacções e os
assobios por parte dos “treinadores” que estão confortavelmente na bancada,
onde tudo parece fácil: No que há pega diz respeito, estipula o regulamento que
os grupos dispõem de 3 tentativas ou de 5 minutos para a concretizar. Face aos
acontecimentos e às indicações que o toiro vinha a dar, se calhar era mais
bonito fazer as coisas sem calma, e arriscarmo-nos a soar o toque para a saída
à arena dos cabrestos e ter o director de corrida a dar ordem para o toiro
recolher “vivo” aos curros. Eu não acho, e penso que com uma boa decisão do
nosso Cabo, ao ir-mos para a 4ª
tentativa através da sorte sesgada, só mostrámos “verguenza torera” e que
queríamos resolver a papeleta com vontade e eficiência!
O nosso segundo, um jabonero impressionante com 670 kg, teve uma lide
regular e asseada pelo Manuel Telles Bastos.
Mais um comboio (será mesmo por causa da linha?!?), este com
a dificuldade acrescida de ter sido um toiro bastante difícil para colocar, uma
vez que assim que avistava um forcado, lá vinha ele pronto para arrear.
Para
este toiro, o escolhido foi Gonçalo Maria Gomes. É sem dúvida um forcado que
qualquer grupo gostaria de ter, arriscando-me mesmo a dizer que “aquela” altura
da reunião, hoje em dia, só o Gonçalo. O ideal para qualquer forcado da cara,
seria pegar todos os toiros à primeira tentativa. Sabemos que isso nem sempre é
possível, mas posso dizer-vos que em todos os anos que levo de Grupo de Lisboa
(11) ainda não se contam por todos os dedos das minhas mãos, o número de vezes
que o Gonçalo teve de ir à cara de um toiro mais do que uma vez. Se isto não dá
confiança a um Cabo e a um Grupo,
então que dará..?
Brindou à família Casquinha, que tão bem nos soube acolher!
Neste
em especial, pelas dificuldades que apresentava para se fixar, na primeira tentativa
saiu solto e o nosso Gonçalo não se conseguiu fechar como tão bem sabe. Na
segunda, e com o Gonçalo já a mandar ma investida, pudemos assistir a um dos momentos (senão
o momento) da tarde. Pega de fazer o público levantar-se a aplaudir em unanimidade o Gonçalo,
o Grupo e ainda com uma chamada especial (mais do que merecida) do Mota Ferreira para acompanhar na volta dada à praça.
O nosso último, com 585kg, foi lidado pelo cavaleiro João
Salgueiro da Costa. Pese embora o esforço do jovem cavaleiro, tínhamos pela
frente um toiro que ainda se encontrava “inteiro” para a pega.
Para a cara deste, foi escolhido o Pedro Gil. É um forcado
que já demonstrou que tem valor para andar para a frente, mas que não tem tido
sorte. Penso que é mais do que merecida esta oportunidade.
Na primeira tentativa, o Tita não se conseguiu fechar de
pernas e acabou por ser despejado sem hipótese de ajuda. Na 2ª tentativa, o
toiro entrou pelo grupo como uma bala e depois despeja o Tita com um derrote
para baixo já perto das terceiras ajudas. Na terceira tentativa, e com o toiro
cada vez a empregar-se mais, enorme par de braços do Tita e o grupo bem a
ajudar, em especial o Nélson
Lopes cá atrás, a não permitir veleidades. Uma boa pega!
Finda a corrida, alguns deparam-se com algumas “medalhas”
(rápidas e boas melhoras para o Lucas que ficou inanimado na arena no toiro do
PP, mas que já se encontra em franca recuperação; o PP para além do melhor pé
esquerdo de Alvalade e arredores, passou também a defender o título do joelho direito
mais inchado; o mota ferreira com duas costelas partidas e a precisar de
descanso e o Nunes, que não deixa de estar habituado…) e todos os outros que
ficaram com o que reflectir.
Há dias bons, mas também temos que ter noção que
dias maus, todos têm. Nada nem ninguém passa de Bestial a Besta de um momento
para o outro. Os que não nos fardámos temos que pensar que assim que tenhamos a
oportunidade temos que estar para o que calhar.
Os que estiveram em praça (e
todos em geral, até os antigos e os que acompanham e apoiam o Grupo) temos que
olhar em frente com confiança, acreditar sempre até ao fim, sabendo que no
final melhores tardes e noites virão.
O desenrolar da época irá dar-me razão.
Ao nosso Cabo,
aqui nos tens: Isto é o GRUPO DE FORCADOS AMADORES DE LISBOA!!!