Meu Caro Zé João,
Estivémos juntos na Casa do Bosque em Galamares três ou quatro dias antes de partires. Recordo-me que falámos da corrida de 2 de Setembro no Campo Pequeno e do entusiasmo com que estavas. Mas Deus quis que não pudesses assistir a esse grande espectáculo na praça e se calhar viste-o lá do alto na companhia dos anjos teus protectores. Quero dizer-te que deixaste grandes amigos nesta terra e muitos simpatizantes que não se esquecem das tardes e noites de glória, quando nos punhas com o coração na boca nos impossíveis câmbios junto às tábuas, porque esses ousados actos de Arte marcaram a nossa geração. Depois de ti ninguém ousou superar-te nessas inesquecíveis sortes. Lindo foi o espectáculo da tua alternativa, quando teu padrinho senhor João Branco Núncio, que decerto já aí encontraste, completava 50 Anos de toureio profissional. Nunca mais assisti a uma cerimónia tão bonita! Nem os verdadeiros aficionados esquecem! Sonhaste, lidaste, triunfaste, aparentemente faleceste e ficaste na História da Tauromaquia por mérito próprio!
Nesta homenagem que quatro homens dos toiros promoveram, Vasco Lucas, Cachapim, Carlos Amorim e João Pedro Bolota, com a mizade e dedicação, a que aderiram reais clubes, grupos Tauromáquicos, o senhor Secretário de Estado da Cultura Dr. Elísio Summavielle, que tem sido um exemplo de amor à Festa e tantas pessoas que te querem bem, só faltou algum público ingrato que tem a memória curta e vive com pouco sentimento as efemérides taurinas, porque acha que já deu tudo e o homenageado nada tinha a receber. É típico, é nacional, fruto de deseducações que pouco a pouco se vão impondo, fazendo assim a jogatana dos vinte vegetarianos que à 5ª feira à noite berram à frente do Campo Pequeno, clamando por seus pais! Mas por outro lado, uma dúzia e meia de cavaleiros, o Alvarito Domecq, o Zé Lupi, o Zé Cortes, o Frederico, o Manuel Jorge, o Emídio e tantos outros, vieram montados para te darem um abraço, acompanhados de gerações mais novas como o Bastinhas ou o Rui, com as respectivas proles que nunca te viram toirear, mas que ouvem maravilhas sobre os ferros que cravaste, a arte e o perfume que espalhaste nas arenas das praças e da vida, que albergam na sua intimidade o que de bom deste à Festa Brava, como se de um tesoiro egípcio se tratasse. Tiveste no Montijo grandes amigos e a tua família querida. O Eng.º Ruy Gonçalves presenteou-te com um curro de elevados peso e apresentação que fez a vida negra aos forcados de Santarém, Lisboa e Alcochete. Todos os cavaleiros deram o seu melhor nas lides, mas os Telles, António e seu sobrinho Manuel, os Salgueiros, pai e filho, e dois ferros soberbos de Rui Salvador, puseram a festa em alto nível. Os moços de forcado levaram porrada, de um modo geral, alguma da grossa, mas sofreram por ti, pela tua memória, pelo teu exemplo e pelo respeito que tu mereces. Por Santarém pegaram Luís Sepúlveda, sempre perfeito e um dez réis de gente de nome António Imaginário, pequeno gigante que foi à cara do toiro cinco vezes e depois deu volta à praça por exigência do público, pelo sacrifício demonstrado. Lisboa pegou através do Cabo Pedro Maria Gomes, proibido pelos médicos de entrar em tais façanhas, mas não regateou a pega em teu louvor. Seguiu-o o irmão Gonçalo, já retirado mas muito aficionado às artes, que te conheceu e quis dar-te o que de melhor tem. Um toirão de força bruta fê-lo ir de maca, o que cheirou a tragédia. Ao jantar no amigo Enguias já se ria com as dores como se nada de anormal tivesse sucedido, mas ser forcado é isso mesmo. Já dizia Pessoa que se queres passar o Bojador tens de passar além da dor e ser forcado é isso mesmo. Pelos Amadores de Alcochete tiveste uma pega do Luís Saramago, que sofreu dois enormes derrotes, como sabes, e consumou o abraço, e Hugo Silva, que fez um pegão na tua tarde inesquecível. Todos te brindaram e aos teus familiares, olhando para o céu para falarem contigo, sabendo que estás bem e que se pudesses fisicamente envolverias todos os participantes na tua festa num muito longo abraço que começou no Montijo e se estendeu por galáxias sem fim até chegar a Deus, ou seja, ao lugar que justamente junto d`Ele ocupas por mérito próprio com o teu sorriso de simpatia.
Teu amigo de Colares que nunca te vai esquecer e até um dia Zé João!
Estivémos juntos na Casa do Bosque em Galamares três ou quatro dias antes de partires. Recordo-me que falámos da corrida de 2 de Setembro no Campo Pequeno e do entusiasmo com que estavas. Mas Deus quis que não pudesses assistir a esse grande espectáculo na praça e se calhar viste-o lá do alto na companhia dos anjos teus protectores. Quero dizer-te que deixaste grandes amigos nesta terra e muitos simpatizantes que não se esquecem das tardes e noites de glória, quando nos punhas com o coração na boca nos impossíveis câmbios junto às tábuas, porque esses ousados actos de Arte marcaram a nossa geração. Depois de ti ninguém ousou superar-te nessas inesquecíveis sortes. Lindo foi o espectáculo da tua alternativa, quando teu padrinho senhor João Branco Núncio, que decerto já aí encontraste, completava 50 Anos de toureio profissional. Nunca mais assisti a uma cerimónia tão bonita! Nem os verdadeiros aficionados esquecem! Sonhaste, lidaste, triunfaste, aparentemente faleceste e ficaste na História da Tauromaquia por mérito próprio!
Nesta homenagem que quatro homens dos toiros promoveram, Vasco Lucas, Cachapim, Carlos Amorim e João Pedro Bolota, com a mizade e dedicação, a que aderiram reais clubes, grupos Tauromáquicos, o senhor Secretário de Estado da Cultura Dr. Elísio Summavielle, que tem sido um exemplo de amor à Festa e tantas pessoas que te querem bem, só faltou algum público ingrato que tem a memória curta e vive com pouco sentimento as efemérides taurinas, porque acha que já deu tudo e o homenageado nada tinha a receber. É típico, é nacional, fruto de deseducações que pouco a pouco se vão impondo, fazendo assim a jogatana dos vinte vegetarianos que à 5ª feira à noite berram à frente do Campo Pequeno, clamando por seus pais! Mas por outro lado, uma dúzia e meia de cavaleiros, o Alvarito Domecq, o Zé Lupi, o Zé Cortes, o Frederico, o Manuel Jorge, o Emídio e tantos outros, vieram montados para te darem um abraço, acompanhados de gerações mais novas como o Bastinhas ou o Rui, com as respectivas proles que nunca te viram toirear, mas que ouvem maravilhas sobre os ferros que cravaste, a arte e o perfume que espalhaste nas arenas das praças e da vida, que albergam na sua intimidade o que de bom deste à Festa Brava, como se de um tesoiro egípcio se tratasse. Tiveste no Montijo grandes amigos e a tua família querida. O Eng.º Ruy Gonçalves presenteou-te com um curro de elevados peso e apresentação que fez a vida negra aos forcados de Santarém, Lisboa e Alcochete. Todos os cavaleiros deram o seu melhor nas lides, mas os Telles, António e seu sobrinho Manuel, os Salgueiros, pai e filho, e dois ferros soberbos de Rui Salvador, puseram a festa em alto nível. Os moços de forcado levaram porrada, de um modo geral, alguma da grossa, mas sofreram por ti, pela tua memória, pelo teu exemplo e pelo respeito que tu mereces. Por Santarém pegaram Luís Sepúlveda, sempre perfeito e um dez réis de gente de nome António Imaginário, pequeno gigante que foi à cara do toiro cinco vezes e depois deu volta à praça por exigência do público, pelo sacrifício demonstrado. Lisboa pegou através do Cabo Pedro Maria Gomes, proibido pelos médicos de entrar em tais façanhas, mas não regateou a pega em teu louvor. Seguiu-o o irmão Gonçalo, já retirado mas muito aficionado às artes, que te conheceu e quis dar-te o que de melhor tem. Um toirão de força bruta fê-lo ir de maca, o que cheirou a tragédia. Ao jantar no amigo Enguias já se ria com as dores como se nada de anormal tivesse sucedido, mas ser forcado é isso mesmo. Já dizia Pessoa que se queres passar o Bojador tens de passar além da dor e ser forcado é isso mesmo. Pelos Amadores de Alcochete tiveste uma pega do Luís Saramago, que sofreu dois enormes derrotes, como sabes, e consumou o abraço, e Hugo Silva, que fez um pegão na tua tarde inesquecível. Todos te brindaram e aos teus familiares, olhando para o céu para falarem contigo, sabendo que estás bem e que se pudesses fisicamente envolverias todos os participantes na tua festa num muito longo abraço que começou no Montijo e se estendeu por galáxias sem fim até chegar a Deus, ou seja, ao lugar que justamente junto d`Ele ocupas por mérito próprio com o teu sorriso de simpatia.
Teu amigo de Colares que nunca te vai esquecer e até um dia Zé João!
António Manuel Moraes
Nota - O Gonçalo a seguir ao jantar dirigiu-se ao hospital dos Lusíadas onde foi sujeito a um raio x e foi-lhe diagnosticada uma fractura do rádio, saiu engessado.
2 comentários:
Parabéns!Lindas e comoventes palavras.Descanse em Paz D.José João Zoio.Manuela Silva
CRÓNICA ESPECTACULAR...BEM À ALTURA DE UM GRANDE HOMEM TOREIRO!!!
Ricardo Caraças
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