As primeiras palavras são de
agradecimento ao convite e confiança do nosso Cabo para a ingrata tarefa de
relatar, em jeito de crónica, mais uma corrida do GFAL.
Quis a Providência, em primeiro e
a organização do festejo, em segundo, que no passado domingo, dia 30 de Junho,
nos deslocássemos a Sanguinheira, Concelho de Cantanhede, volvidas apenas 43
horas do anterior compromisso, em Pêro Pinheiro, para a nossa primeira corrida
de 6 toiros da temporada.
Responsabilidade acrescida e
motivação extra eram as palavras de ordem. Corrida do Sr. Higino Sobral da
Rocha, a quem estamos gratos pela receção e amizade.
Para tourear estavam anunciados
Ana Batista, Alberto Conde e Manuel Teles Bastos, destacou-se o segundo, numa
corrida harmónica, com peso e trapío
ajustados à praça portátil, à excepção do terceiro e quarto, touros com mais peso,
mais bastos e sérios, um pouco fora do tipo e do comportamento dos restantes
irmãos de camada.
Os toiros cumpriram no geral,
deixando-se tourear e não comprometendo nas pegas, realço o segundo da tarde,
mais voluntarioso e com maior transmissão, o quarto saiu reservado, parado e
defendendo-se. Pena o estado da arena, demasiado pesado e com verdadeiras
crateras, situação que poderá ter contribuído para que o êxito não fosse maior.
Para o primeiro toiro, uma
estreia, à primeira. O Cabo escolheu o jovem forcado Duarte Mira, boa
recompensa para todo o seu empenho durante os treinos. O Duarte esteve muito
calmo e sereno, andou, citou e carregou, não reuniu na perfeição, por
inexperiência aliada ao mau estado do piso, no entanto a vontade falou mais
alto e fechou-se com determinação para não mais sair, embora o touro não tenha
dificultado, o grupo entrou rápido a ajudar um toiro que viajou com a cabeça e
forcado pelo alto. Está de parabéns o Duarte e que tenha sido presságio para um
percurso com muitos sucessos.
O segundo touro coube ao João
Varanda de Carvalho, forcado também
jovem e no começo destas
andanças, demonstrou igualmente muita tranquilidade, cumpriu os cânones da
pega, e apenas a reunião, à semelhança da pega anterior, não é perfeita pelo
estado do piso, facto que não impediu que se consumasse à primeira, por muito
querer do João e célere recuperação do primeira ajuda Rui Gil, também com o
touro viajando por alto e ajudado eficazmente por todo o grupo.
Ao terceiro da tarde, toiro maior, com mais presença, foi o forcado António Cortesão, nessa tarde a “jogar em casa” uma vez que é da região. O António não sendo propriamente um principiante e talvez por “influências asiáticas” do seu ano académico, esqueceu-se um pouco das maneiras nesta pega, não falo na eficácia, mas na maneira de pegar. Uma vez forcados, somo-lo até quando estamos a dormir, e então em praça devemos abusar desse estatuto.
O António fez uma boa pega à segunda, com uma reunião rápida e fechando-se, enrolado, na cara do toiro, mas tem de treinar mais o cite. A elegância, a arte e até a vaidade devem fazer parte da nossa farda, andar para um touro não pode ser o mesmo do que ir ao café Toino!
Na primeira tentativa o António recebe bem o toiro, faz uma viagem sem derrotes até às tábuas, onde bate e sai com violência, por falta de uma mãozinha dos ajudas que neste touro, quiçá por se diferenciar dos três primeiros, tenha provocado mais temor, no entanto devemos crescer à medida que cresce o toiro e aí sairemos sempre por cima.
O quarto da tarde era reservado, parado e a defender-se, prevendo-se um toiro a sair com maldade, mas quando há forcados a estarem bem, essa maldade esfuma-se depressa. Neste toiro o Cabo escolheu o João Luz, forcado com mais tarimba, para um touro que pedia tarimba. O João esteve muito bem, consciente e fez o que se deve fazer, poucas veleidades, poucas vantagens e muita decisão, reunião perfeita, bem fechado e superiormente ajudado pelo grupo, que depois da pega anterior ter falhado na primeira tentativa, se redimiu agora, pondo “toda a carne no assador.”
Destaco a eficácia e voluntarismo do Armando Nunes na primeira ajuda, de nota e com direito a chamada, justa, para agradecimento. O Armando que na ajuda ao António Cortesão esteve menos bem, tentando ajudar “rodando o pitón”, nesta pega deu o peito ao toiro e ao forcado, recuou e fechou-se com técnica e mando, assim as coisas muito dificilmente não resultam. Pega dura à primeira e muito bem ajudada por todos.
Para a pega do quinto, o Cabo
designou o João Mendes Pereira. Esteve muito correto desde o cite ao final da pega, o touro sai-lhe
solto, o que pela pouca experiência poderia tê-lo surpreendido, coisa que
felizmente não aconteceu, o João não se descompôs, aguentou a investida, recuou
na medida e fechou-se à primeira, mais uma vez bem ajudado pelo grupo.
O saldo ia mais que positivos, 4
toiros à primeira e um à segunda,
Para epílogo nesta tarde de
toiros foi indigitado o Martim Cosme Lopes, que apenas 43 horas antes havia
feito uma bela pega em Pêro Pinheiro.
O Martim é um forcado muito novo, mesmo
muito novo e como tal com uma grande margem de progressão, pelo menos assim se
espera.
Nesta pega, a um toiro sem
dificuldades, o Martim não se conseguiu encontrar, é normal num forcado jovem,
não é motivo de preocupação, o traquejo vai-se fazendo com o passar dos anos.
As coisas não se resolvem com pressas mas sim devagar e quando não resultam à
primeira tentativa, como foi o caso, temos de refletir o que de errado fizemos
para corrigir logo na tentativa seguinte.
O piso estava muito mau, é certo e
ninguém duvida, então devemos adaptar-nos o mais possível a essa circunstância,
recuando em bicos dos pés e sem brusquidão. Nas duas primeiras tentativas o
Martim afogou demasiado o touro e não conseguiu sacar-se a tempo,
desequilibrando-se e caindo-lhe na cara. Se tivesse consentido mais o toiro,
deixá-lo vir de mais longe, recuando miudinho e nos bicos dos pés, a pega tinha
sido consumada à primeira, assim apenas à terceira se fechou, com pouco brilho
mas com uma vontade emergente do Martim, que nunca desmoralizou.
Martim, a pega
não é um conceito fechado, cada toiro tem a sua pega. Como disse, não é
preocupante, está apenas a começar.
O recuar nos bicos dos pés deve
aplicar-se sempre e por todos os forcados de cara, pode influenciar uma pega,
mais ainda quando os terrenos estão impraticáveis e isso viu-se,
afortunadamente sem consequências, em algumas das nossas intervenções.
O Cabo apostou e muito bem no futuro
do Grupo, dando-lhes sítio e pondo-os à prova, à chamada todos disseram
presente, uma palavra especial para o menos jovem Nuno Maria Bonneville que, de entre
uma boa actuação, no cômputo geral, dos demais ajudas e sem desprimor para
ninguém, esteve, durante toda a tarde, no lugar certo.
Foi um domingo bem passado, teria
sido melhor se o sistema anti-poluição da viatura do Bonne não nos tivesse
privado de um bom leitão à moda da Bairrada! Mas enfim, é mais uma história que
fica para contar…faz parte da Festa.
Oxalá que não escreva mais
crónicas das nossas corridas…é sinal que voltei a estar fardado ao vosso/nosso
lado!
Venham as próximas e que sejam,
pelo menos, iguais a esta!
Bernardo Salgueiro Patinhas