07 agosto 2013

Corrida de Paio Pires

“Nada é impossível para aquele que persiste”

                                                                                      Alexandre o Grande



Paio Pires: 2/08/2013
Cavaleiros: João Moura, António Brito Paes, Manuel Telles Bastos
Grupo de Forcados Amadores de Lisboa comandados por Pedro Maria Gomes
Toiros: Ganadaria Vinhas





2 de Agosto de 2013, dia que ficará gravado na memória de todos os que presenciaram na Aldeia de Paio Pires uma agradável noite de touros.

Para o Grupo de Forcados Amadores de Lisboa esta corrida tinha, por várias razões, um sabor especial. Era o início de uma intensa e dura jornada taurina como há algum tempo já não gozávamos . A primeira de 3 corridas com 12 toiros pela frente.

Perante um curro com peso e trapio, de exemplar apresentação, digno de uma praça de primeira categoria o nosso cabo escolheu os elementos que na sua óptica seriam mais adequados para resolver os problemas que os Vinhas poderiam apresentar. Um misto de forcados com experiência e nome já bem presente na Festa, prontos para qualquer situação, e uma fornada de jovens “recrutas” com uma vontade enorme de andar para a frente, que têm mostrado o seu valor quando lhes é dada a oportunidade de poderem envergar a pesada tarefa de trajar a jaqueta do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa.

Tentarei resumir o que assisti naquela noite o mais simplificadamente possível, pois, os pormenores, deixo-os para os entendidos.

Para abrir praça o nosso Cabo escolheu o “Pisca”. Forcado jovem e com uma vontade enorme de aprender, descendente de Um dos grandes do nosso Grupo, tem agarrado com unhas e dentes as oportunidades que lhe têm sido dadas. Tem sofrido infelizmente algumas lesões mas com a humildade e força com que já o conhecemos, tem sabido ultrapassar todos os problemas e apresentar-se sempre com um sorriso de orelha a orelha. Pegou à segunda tentativa. Continua assim Eurico tenho a certeza que tens sempre alguém a olhar por tí, contente com as opções que fizeste na tua vida. Nota para o Rui Gil que foi merecidamente chamado à praça resultado de uma boa primeira ajuda. O Rui que esteve afastado durante 2 anos destas lides, consequência de uma grave lesão interna ao tentar pegar um toiro de caras, regressou em boa hora e tem estado a desempenhar correctamente as funções de ajuda.

Duarte Mira lembro-me de ter estado fardado ao teu lado na trincheira durante a corrida de Oliveira do Bairro. O Pedro Maria alegrou esse teu dia, oferecendo-te um toiro. Foi com emoção que vi na tua cara uma expressão de vontade e enorme desejo de agarrar a oportunidade. Em Paio Pires a tua expressão era a mesma, foi pena a primeira tentativa, o toiro meteu a cara no chão e quando a levantou deu um derrote fortíssimo e inesperado não dando sequer tempo ao grupo de lá chegar. Pegou à segunda tentativa com o toiro a ter exactamente a mesma reacção mas a pronta ajuda dos restantes elementos e a vontade do Duarte de querer ficar na cara, fez com quem a pega fosse consumada.

Para o terceiro toiro saltou à praça o Varanda (atenção Varanda e não Varandas). O João tem demonstrado desde que começou a treinar no GFAL uma facilidade enorme na arte de pegar toiros de caras, muito se deva provavelmente também à sua magnífica preparação física. Fez tudo desde o início ao fim “como mandam os livros”,  educação a andar em praça, brinde, calma a andar para o toiro, cruzar-se, recuar, reunião, e quando assim é o que poderia ser difícil torna-se fácil. Não quero que, com este elogio entres em euforia e te sintas invencível. Tiveste uma noite boa mas, lembra-te que o artista principal é o toiro, é ele que manda. Tens muitos e seguramente bons anos pela frente de forcado, ouve sempre com atenção o que os mais velhos e experientes te dizem e ensinam. Desta maneira as coisas tornam-se mais fáceis. Pega tecnicamente perfeita à primeira tentativa.

Segunda parte da corrida, e na minha opinião, completamente diferente da primeira. Estavam prontos para sair em praça três toiros sérios e com peso, que exigiam forcados da cara experientes e um Grupo coeso a ajudar.

 PP elegeu o João Galamba. O hastado pedia um forcado que estivesse irrepreensível na sua cara. Como disse no início não vou pormenorizar o que se passou, mas de uma coisa estou certo, o que assisti durante as quatro tentativas foi um Grupo de amigos, que nunca virou a cara. Cresceu sempre perante as dificuldades exigidas por um toiro com pata, bruto quando metia a cara. O João saiu maltrado mas notava-se na sua cara uma manifestação de missão comprida. São estes os toiros que nos fazem cá andar, são estes os toiros que fazem com que olhemos uns para os outros no meio das tentativas e vejamos na cara dos nossos irmãos o orgulho de sofrer e por vezes derramar sangue a seu lado, são estes os toiros que fazem com que tenhamos o privilegio de sermos os eleitos de fardar com esta Jaqueta. Não podia deixar de referenciar o João Pedro Mota Ferreira e o Pedro Nunes. 2 Tigres que nunca viram a cara ao perigo. Seja em praças desmontáveis ou de alvenaria. O Mota na segunda tentativa, e mais uma vez, dá uma lição como se deve dar uma primeira ajuda sem nunca “afogar” o forcado da cara e conseguindo-se “montar” até cá atrás. O Nunes após o toiro deixar o grupo todo no chão e numa desesperada tentativa de manter o João Galamba na cara do toiro sofre uma pancada violenta na cabeça que o deixou inanimado. Após ter sido observado na ambulância pelo nosso amigo e incansável, Dr. Jorge Machado, regressou passado pouco tempo para junto dos seus amigos na trincheira. Só após o jantar se dirigiu ao hospital para ser devidamente avaliado, Imagem de marca do Pedro Nunes.

Maior e mais pesado da corrida, estampa de animal. A andar para o toiro um forcado que dispensa apresentações. O Manuel Guerreiro é um elemento de primeira linha, um forcado seguro que qualquer grupo gostaria de ter nas suas fileiras. Protagoniza dois pegões magnificamente ajudado pelos restante. Só os grandes têm capacidade para tal. Sem comentários.

Para fechar a actuação do Grupo da Capital o nosso cabo premiou o Daniel Batalha. Para quem priva com o “mãozinhas” conhece bem as suas aptidões físicas que deixam qualquer um de boca aberta. Magnifico rabejador que tem deixado as praças em êxtase ao rematar as pegas, tem também demonstrado reveladoras capacidades para a pega de caras e uma vez mais mostrou do que é capaz quando chamado a intervir. Pegou à primeira tentativa um toiro que saiu solto e com pata, emendando durante o caminho o facto de ter começado a recuar cedo de mais. Foi e muito bem aconchegado pelos ajudas a um toiro que empurrou forte até ás tábuas e que lutou para se livrar quando se sentiu agarrado.


Foi feita durante o intervalo, justa homenagem a João Moura pelos seus 35 anos de alternativa e pela contribuição à festa brava em Portugal e além fronteiras. Ofereceu a organização da corrida um ramo de flores e o Grupo de Forcados Amadores de Lisboa um livro com a sua história. Foram também e merecidamente homenageados três filhos da terra. Três dos maiores e melhores Forcados com quem tive o prazer e a honra de me fardar, pegar e privar. Um agradecimento especial ao António José Casaca, Luís Segão e Nelson Lopes um exemplo de que um forcado nunca despe a sua jaqueta. A entrega e dedicação com que montaram esta corrida, são fruto de dois anos consecutivos de sucesso da corrida de toiros, nas comemorações das festas da Aldeia de Paio Pires. Uma palavra de simpatia para o café/restaurante Nova Lisboa que tem sempre as suas porta abertas, e preza constantemente a presença dos nossos elementos.


Não podia terminar esta crónica sem antes exprimir a felicidade que tive ao presenciar o  sector da bancada que nos estava destinado, repleto de antigas glórias, namoradas, mulheres e amigos. Obrigado por nos acompanharem incansavelmente durante estes três dias. Sempre que consigam e que vos seja possível juntem-se a nós. Este Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, é também o vosso! Juntos somos mais fortes.

Pedro Maria, a nossa amizade permite que assim te trate. Aceitas-te pegar 12 toiros em três dias. Tarefa árdua e de muita responsabilidade. Tenho a certeza que muito meditaste e ponderaste se o havias de ter feito. Uma vez um grande General disse: “Nada é impossível para aquele que persiste”. Conheces melhor do que ninguém as tuas tropas, foste eleito porque és um líder e um exemplo. Por trás de um grande General há sempre um grande soldado, ficou demonstrado que estes nunca te abandonarão e que serás sempre respeitado, que estarão sempre prontos a servir a ti, e ao Grupo de Forcados Amadores de Lisboa.



Fernando Santos Costa
Lisboa 7 de Agosto de 2013

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