08 setembro 2013

Última dos Amadores de Lisboa em Lisboa



Os Amadores de Lisboa fecharam a época na sua terra numa corrida de praça cheia.

O cartel era composto por António Palha Ribeiro Telles, Pablo Hermoso de Mendonça e Miguel Moura, Forcados Amadores de Lisboa e Évora e os toiros pertenciam à ganadaria Passanha.

Era a corrida da revista Lux, por isso muita gente ligada à moda e televisão marcaram presença na praça Lisboeta.

A corrida desta noite tinha para os Amadores de Lisboa um sabor “agridoce”, pois era a última corrida em que o Nelson Lopes e Gonçalo Maria Gomes iam vestir a jaqueta de Forcado em corridas normais.
Eu quis estar presente, como muitos dos mais velhos estiveram, pois o Nelson e o Gonçalo, por tudo o que deram ao grupo, na maneira de ser de estar de ajudar e de resolver os problemas bem merecem a nossa gratidão.

O mestre Nuno Salvação Barreto, José Luís Gomes e o Pedro Maria Gomes, estão com certeza orgulhosos de os ter tido como elementos deste nosso Grupo.

No discurso do jantar o nosso Cabo PP perguntou-me se queria dizer umas palavras e eu disse que não, ele de seguida disse; “depois vens dizer que devias ter falado”… e teve razão.

Então aqui vai:
Antes de falar das pegas queria falar aqui um pouco em jeito de homenagem, destes dois grandes Forcados do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, com quem eu tive o prazer de privar.
O Nelson Lopes apareceu pelas mãos do Casaca e do Bombeiro, tinha 15 anos um “bambino”.
Nos primeiros treinos recordo-me de ouvir dizer que estava ali um diamante por lapidar, e foi verdade.
Sempre muito calmo e humilde, cresceu e apendeu depressa, logo revelou ser peça importante a pegar de caras ou a ajudar em qualquer posição, sem nunca, mas nunca, (nem se espera outra coisa de quem quer envergar a jaqueta do GFA de Lisboa) virar a cara à luta.
O Nelson foi um forcado de mão cheia tanto dentro como fora da praça, a sua humildade e maneira de estar na festa, sem vaidade ou protagonismo cativou toda a gente, desde os mais velhos, aos mais novos que ainda hoje estão no Grupo.
Dentro e fora da praça tive o prazer de pegar com ele, tivemos “corridas” engraçadas em Portugal, França, Espanha, Macau e até Barrancos, recordo aquela noite no Olivença onde dormiu comigo e com o Bombeiro… a beber whisky por uma tampinha… aqueles banhos na Pipa em Barrancos… as grades de minis na Forja, quando íamos marcar quarto…  os 5 contos para vires para Lisboa com o Bombeiro … enfim vivemos e divertimo-nos bastante, era a equipa maravilha.

O Gonçalo Maria Gomes, queria era Body –Bord, acompanhava o Grupo mas não queria “mexa”, de repente fez-se um click ,e começou a treinar com o Grupo. Pegou o 1ª toiro na praça do Redondo, o tal ”cão grande” (Lima Monteiro), para quem não conhece a história é simples, eu perguntei ao Gonçalo como se tinha sentido ao pegar o seu 1º Toiro, e ele respondeu-me, “ parecia um cão grande a vir para mim”.
Para o Gonçalo ser Forcado no Grupo de Lisboa não foi tarefa fácil, o seu pai era o cabo e tratava-o de igual a todos os outros, para o Gonçalo era sempre uma responsabilidade a dobrar.
O Gonçalo foi um forcado sempre em grande forma fisicamente, o que lhe permitiu fazer grandes pegas, tinha uma maneira muito sua de citar, séria e sóbria sem muitas veleidades mas muito, muito eficaz, tinha uma reunião com os toiros como poucos conseguem e quando se “trancava” de braços era para ficar, todos iam atrás do Gonçalo com a máxima confiança.
O Gonçalo também provou o amargo da festa, para nós elementos do Grupo foi difícil, imaginem para o Gonçalo ver pelo que passou o seu irmão.
Por estas e muitas mais situações o Gonçalo foi uma Grande Forcado que muito deu ao seu Grupo.
Também tive com o Gonçalo umas boas corridas dentro e fora da praça, aqueles dias nos “Limas”, quando fomos para o Algarve uma semana antes de uma corrida para marcar quarto, eu o Gonçalo e o Nuno da Burra, que semana… e rende…e não marcámos o quarto, aquela em Estremoz, “eu não sou o Manel Piteira”… sabes cantar, sabes cantar… lailailaii... enfim…e tantas outras.

Sinto-mo orgulhoso de me ter fardado com estes dois Grandes Forcados do Grupo de Lisboa.

As pegas da corrida:
O 1º toiro da noite um Passanha em tipo e bem apresentado, mas com deficiências na visão, o Forcado da cara escolhido foi o Gonçalo Maria Gomes, brindou à sua mulher, seus dois filhos e ao Grupo, era a sua última pega em corridas oficiais.
O Gonçalo não deu muitas vantagens ao toiro e colocou-se em “su sitio”, mandou no toiro e fechou-se como uma lapa. A pega foi consumada à 1ª tentativa.

Para o nosso 2º da ordem foi o Forcado Daniel Batalha, uma estreia no Campo Pequeno, o nosso “Mãozinhas” esteve sereno e não se deixou intimidar por estar na 1ª praça do País. O toiro era também mal visto mas o forcado esteve correto com ele e fechou-se à 1ª tentativa.

Para a cara do nosso último da noite uma estampa de toiro, foi escolhido o Forcado Manuel Guerreiro, o Passanha era um pedaço de toiro, mas só em trapío, pois em qualidade foi o pior da noite. O toiro era tardo na investida e o Manel esteve enorme ao pisar -lhe os terrenos, aqueles que fazem secar a boca e bater mais forte o coração, o toiro lá saiu e o Manel fechou-se bem à 1ª tentativa.

Os toiros Passanha estavam bem apresentados como era de esperar, mas foram mansos e sem transmitir emoção, os toiros não foram difíceis mas o Grupo não complicou, os forcados da cara estiveram corretos e os ajudas também. 
Fechámos assim com chave de ouro a última corrida em Lisboa de uma época positiva.
Pelos Amadores de Évora pegaram os Forcados Gonçalo Pires fechou-se à segunda tentativa, o Forcado Manuel Rovisco à terceira e Forcado João Oliveira ao primeiro intento.

O jantar foi agradável foi pena ser dia de semana, esteve muita gente no jantar, houve discursos e em todos eles se falou do Nelson e do Gonçalo.
Até o nosso Nuno da Burra foi ao jantar e botou discurso.

Foram também agraciados com uma oferta, António José Casaca, Luís Segão e Nelson Lopes, por fazerem parte da organização que trouxe de volta à aldeia de Paio Pires as corridas de toiros.
Também tivemos direito a uma Srª que aparece nas revistas cor-de-rosa, aquela Srª que é “aficionada” e desde pequena que ia ao colo do pai às corridas em Vila Franca, de seu nome Lili Caneças.

Pelo Grupo de Lisboa, venha vinho…


Carlos Ramalhinho

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