25 maio 2009

Forcados Amadores de Lisboa – Uma forma de vida

Entrevista de José Luís Gomes a Portallisboa:

"Estamos num típico monte alentejano. As estradas são de terra, cheira a campo, no cimo de uma colina vê-se uma casa branca com barras azuis.

Abrimos a cancela e depois de horas perdidos na estrada, por caminhos que quase nos levavam até ao Algarve chegamos ao Vimieiro onde alguns dos Forcados Amadores de Lisboa estão reunidos para um dos seus habituais retiros de treino.

O grupo dos Forcados Amadores de Lisboa é dos mais antigos de Portugal. Tendo tido ao longo da sua existência dois Cabos: Nuno Salvação Barreto, Cabo desde 1944 até 1991 e José Luís Gomes desde 1992 até ao corrente ano.

Estacionado o carro imediatamente somos informados que nos aguardam no local de treinos. Ao longe ouvem-se os risos e as vozes animadas. Estão juntos desde manhã cedo, como tantas vezes o fazem.


São jovens os forcados que nos recebem. Alguns deles experimentarão pela primeira vez pegar uma vaca nesse dia. Hoje o treino é com gado manso e permite aos curiosos testar a sua vocação, quem sabe não estarão ali os futuros talentos que irão pisar as arenas portuguesas?

José Luís Gomes, o Cabo do grupo, fala-nos com orgulho do grupo de mais de quarenta forcados que representa “Somos quase família. É com eles que me sinto bem, mesmo quando este ano abandonar o lugar de Cabo vou continuar a acompanhá-los”.

Segundo José Luís Gomes acordou um dia e soube que tinha chegado a hora de passar o testemunho, “Custou-me muito tomar esta decisão de me retirar, mas é o momento certo”.


“Está-nos no sangue. Os meus antepassados, eu próprio, os meus filhos. Todos nós estamos ligados à tauromaquia. A minha própria filha de 14 anos já tem essa paixão pelo touro.”, afirma José Luís Gomes com visível orgulho enquanto observa os jovens forcados que ao longe treinam as pegas.
É habitual o grupo fazer estas deslocações a convite de amigos o que “É bom para o dono da herdade pois ajudamos na ferra do gado e é bom para o convívio do grupo e para o treino.”, disse Manuel, um dos forcados ao Portallisboa. É nos treinos e nas ferras que se começa a descobrir o potencial do futuro forcado. Aconselhar e corrigir é o papel do Cabo perante os novos elementos. José Luís Gomes é respeitado pelos seus forcados e esse respeito reflecte-se no bom funcionamento do grupo.

De facto, a palavra mais ouvida quando abordamos os jovens forcados é “respeito”. Mais do que um grupo encaram-se como uma família, a verdade é que trabalham em equipa e apoiam-se nos bons e nos maus momentos. A destreza, a garra e o jeito são construídas no dia-a-dia, lide após lide, pega após pega e a confiança uns nos outros é igualmente alicerçada.

Quando questionado sobre como lidavam com a morte e se isso os levava a pôr em causa o que fazem José Luís Gomes não hesitou: “Existe medo, claro que existe medo. Se não existisse não seríamos pessoas conscientes. E para se ser forcado é preciso ser-se consciente. Mas se cedêssemos a todos os nossos medos que vida teríamos? Por vezes existem fatalidades, todos os forcados se magoam mais tarde ou mais cedo, ainda hoje, logo no início um dos rapazes abriu um lábio, um dos meus filhos, já esteve em risco de vida, mas a vontade de voltar e arriscar é algo que é superior a nós. Corre-nos no sangue. Só quem já abraçou um touro sabe o que isso é, não é algo de que se consiga abdicar. Não existe nada comparado ao momento em que homem e touro se abraçam”.

Todos admitem que o medo está sempre presente, não estão a enfrentar o touro, mas a si próprios contando acima de tudo com o apoio dos seus companheiros, para José Luís Gomes isso é o essencial: “Precisamos uns dos outros sempre, tem que existir confiança isto faz com que nos grupos de forcados se criem amizades fortes que acabam por durar a vida toda”.

E os portugueses continuam a ter interesse pela tauromaquia?

“Somos um país de apaixonados pelo fado e pelo touro. Os portugueses sempre irão gostar de ambas as coisas, são tradições que o tempo não muda nem apaga, apenas fortalece”, palavras de José Luís Gomes ao relembrar as praças de touros cheias que o Grupo de Forcados Amadores de Lisboa já enfrentou ao longo da sua existência.

Com mais de quarenta membros este é um grupo que promete continuar a destacar-se sendo a prova viva de que cada vez mais os jovens se interessam por esta arte tão típica do nosso país: a arte de ser forcado."

in Portallisboa.

1 comentário:

carlos brito disse...

Bom dia Luis

Fomos colegas na Fonseca, em conjunto com o Eduardo Jorge , vizinho teu em Alvalade junto ao Sul America e Liceu.

Não sendo um aficionado, tenho acompanhado o teu percurso ao longo dos tempos, vendo inclusive algumas corridas e as dificuldades que tiveste com o teu rapaz, DEUS é grande para com aqueles que o sabem compreender.

Lamento só ontem ter descoberto que vais abarçar uma nova etapa da tua vida, "deixando" as lides.

Desejo tudo de bom, mas como vou estar fora de lisboa, desta vez irei gravar a tua despedida.

Pois a do teu antecessor vi ao vivo e gravei na memoria.

Mais uma vez tudo de bom para o teu futuro e dos teus , bem como para os Bravos do teu grupo.

Obrigado por tudo o que tens feito nessa vida de Bravo e lutador.

Um abraço.

Carlos Brito.